sábado, 15 de janeiro de 2011

Victor Hugo e o Amendoim Torradinho

Léo, Leda e Thaís em São Paulo. Ano: 1953.
Foto de Victor Hugo. Ele me enviou esta foto de presente logo que aprendeu a mandar e-mails pela internet. Guardei-a em meu arquivo. Publico-a hoje.
(Reparem na nitidez da imagem. O Victor já era profissional em fotografia).

Certa vez, viajando de ônibus e não tendo nada o que fazer enquanto ia sentado, fiquei tentando retornar a minha memória o máximo possível. Eu queria saber até onde poderia retornar mentalmente ao passado da minha vida.

Fiz um grande esforço de concentração e, por mais que eu tentasse ir mais para trás na minha memória mais antiga, não consegui. Parei quando me vi num certo dia numa rua do bairro de Pinheiros, em São Paulo. Eu deveria ter de três para quatro anos de idade e o Victor Hugo me levava passear pela calçada.

Sim! O Victor morava na casa de mamãe e papai (Vô Rapha e Vó Leda) em São Paulo.
Ele tinha ido para lá estudar e trabalhar como fazem muitos estudantes que saem do interior e vão para a capital em busca de melhoria de vida. Papai Raphael, que lecionava inglês em São Paulo, já era casado com Leda e a vida deles começava a se estabilizar na capital. Não havia, portanto, nenhum problema em hospedar o primo que chegava... e já paquerava a filha da vizinha!

Sim. Paquerava a Alice, uma loiraça bonita que era a filha da Dona Maria que morava ao lado.
Ah, sim. O Victor casou-se com ela e uma de suas filhas com a Alice foi a Vânia, cuja foto vocês podem ver no nosso AVC Blogspot.
Mas eu estava falando da minha memória. A mais antiga que eu queria chegar na minha cabeça. E nela me vi passeando na calçada do nosso bairro, com o Victor Hugo me conduzindo pela mão.

Até que na beira da sarjeta vimos lá um carrinho de pipoca. O homem vendia pipoca e amendoim torradinho.
"Quer um amendoim?" - perguntou-me o ainda bem jovem Victor Hugo.
Lógico que eu queria. E ele comprou um saquinho para mim e outro para ele.

Abri o saquinho, peguei aquela coisa meio áspera, pus na boca e já fui mordendo. Um gosto esquisito...
"Não! Não!" - exclamou rindo o primo Victor Hugo. "Não é assim que se come!"

É que naqueles dias amendoim se vendia... NA CASCA! A gente tinha que ABRIR A CASCA com o dente e, lá de dentro, pegar os amendoinzinhos que chacoalhavam dentro daquela espécie de cápsula onde nascem os amendoins. Tinha que tirar da casca, para depois comer.

Ora, eu era só um menininho. Como podia adivinhar essas coisas tão complicadas da vida?
Fiquei rindo comigo mesmo no assento do ônibus que me levava a Guaratinguetá, para eu ir namorar a Ditinha.

Esta foi a minha mais antiga lembrança que consegui alcançar nessa vida. Daí para trás, não consigo ir mais.
Você já tentou fazer isso alguma vez, caro parente? Tente rebobinar o seu filme e veja até que ponto você consegue se recordar nessa vida.

Pois eu lhes digo uma coisa. Na minha recordação mais antiga, a mais antiga de todas, o nosso primo VICTOR HUGO DA COSTA PIRES estava lá... passeando comigo na rua e me ensinando a comer amendoim.
Fica em paz, Victor Hugo. Fica em paz, primo véio. Nos voltaremos a ver. Será que aí no céu tem amendoim torradinho?

Léo.

Um comentário:

  1. Tenho certeza que agora o Victor Hugo esta em paz. e se la tiver amendoim torradinho, melhor!!!!
    Obrigada querido primo, pelo carinho!

    Vânia

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