domingo, 2 de agosto de 2009

De: José Sebastião Pires Mendes, "Tião Mendes - Botucatu (SP)

Resposta ao vídeo de Izabela e Giovana:

QUE LEGAL! Do lado nosso já temos a minha filha Josiana, que por pouco não conseguiu a vaga na Esquadrilha da Fumaça, porque a outra relações publicas resolveu não mudar de posto. Mas ainda poderá pertencer a essa modalidade da FAB, que recentemente fez apresentação em Botucatu. Aqui vai a crônica que publiquei no jornal. Abraços, Tião.


BONS ARES...

Crônica de José Sebastião Pires Mendes

Estamos comemorando o ano da França no Brasil, e infortunadamente o mundo foi sacudido por um acidente aéreo que envolve os dois paises. Estranhas coincidências, que incidem com momentos históricos de sutil relevância.

Celebra-se em Paris majestosa exposição de aeronaves do mundo todo. A tecnologia nunca evoluiu tanto, seja nos aviões militares, seja nas aeronaves para fins pacíficos. Aliás, todas, em última análise, visam a paz, ainda que esta seja usada como pretexto para a velhíssima escravização do homem pelo homem. Mas a ciência humana ainda esbarra com o poder eterno da Natureza. Ainda tem que superar desde ventos, descargas elétricas, coordenadas geográficas, trópicos, até ângulos orbitais de navegação estratosférica. Mas a morte de nosso herói nacional não foi em vão.

Refiro-me a Santos Dumont, que em 1906 espantou o mundo com sua coragem e espírito inventivo. Consternado com o uso que se começava a fazer com seu invento, cometeu o ato suicida, mas isso não passou para a História como uma covardia e sim vigoroso alerta. Que infelizmente está longe de ser devidamente respeitado, já que tivemos Hiroshima, a corrida armamentista espacial e 11 de Setembro. Mas Dumont tornou-se para nós brasileiros, o pai da aviação.

Por isso lá estamos, representados pelo espírito do grande aeronauta, sentindo que nossa presença se impõe cada vez mais no cenário das nações. Basta que saibamos e queiramos ver, já que é tudo uma questão de percepção. E pudemos perceber com profundidade o seu legado, aqui em nossa terra, que entre outras proezas, também é terra de aeronautas. Que o atestem um ícone como o Sr. Tieghi e humanas adjacências.

Foi no sábado, dia 13. O frio amainou, o sol ficou indeciso, e no momento certo, os céus se abriram para um azul espetacular. E o espetáculo teve início. As sete aeronaves vieram lá do infinito do horizonte, em estupenda formação. E daí em diante o bailado começou. E o major-aviador David foi descrevendo, feito maestro de uma orquestra, os inumeráveis movimentos, evoluções, piruetas, “looping”, parafusos e não sei mais o quê de uma equipe a cortar os ares, agora ótimos, mostrando com bravura a pujança de nossos aviadores.

E então a platéia, alguns milhares, delirou. Os jatos de fumaça, em perfeita sincronia, os cruzamentos, os desenhos traçados em pleno céu, o arrojo dos pilotos e a coragem de executar as manobras arriscadíssimas. Tudo isso empolgou, mostrando a que vem nossa Força Aérea, que nessa demonstração deixa implícito o alto nível humano e técnico desse exclusivo e importantíssimo braço de nossas Armadas, que não existem só para nos proteger, como temos visto. Isto é, quando as nossas televisões estancam um pouco a torrente pegajosa e nauseabunda das notícias da “desgraça nossa de cada dia”, que são a corrupção, a injustiça social e seus filhos, a imensa lista de criminalidade e desamor.

Elas existem também para o humanismo social, como nos esforços recentes para deslindar o mistério da queda do Airbus francês. No resgate exaustivo de destroços e corpos, cujo drama ainda está longe de terminar. Mas o brasileiro foi sacudido, à sua revelia, do marasmo da mesmice negativa e guindado às alturas, literalmente, do orgulho nacional. Porque sem este não se faz uma nação. Em nosso caso, não se restaura uma nação. Sim, não temos guerras, ao menos por enquanto. Nossa guerra é interna, e desigual, porque as armas que possuímos chamam-se potencial humano. Mas com este nós podemos contar, porque somos raça de muitos metais vertidos em cadinho de trabalho.

Nosso povo é universal, temos sangue de todo lado, e o ouro flui, não importam as escórias de tal grandiosa fundição. Como a fundição das gigantescas turbinas da usina de Itaipu. Coisa que poucos brasileiros conhecem, e que concretizou o sonho da década de oitenta. Recentemente fomos ultrapassados pela China, mas éramos até pouco tempo os detentores da maior usina hidroelétrica do mundo. O gigantismo não é só próprio dos antigos faraós ou do moderno Trade Center. Que, afinal, já não existe, e as pirâmides lá estão.

O gigantismo está na alma de quem projeta e faz as coisas gigantes. Não somos “gigantes pela própria Natureza” só por causa de um acordo geo-político. Há muito mais no gigantismo de nossa alma interior. É preciso que esse gigante desperte definitivamente. E eleve aos ares seu coração de imenso amor ao ufanismo sadio e sempre construtivo. Como aquele coração nos céus de nossa terra, que embora feito de fumaça, brilhou com fogo mágico nossos olhos a dentro, atingindo nosso âmago de esperançosos brasileiros.

Esquadrilha da Fumaça apresentando-se em Botucatu.
Foto: Gere Bonini
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